3. B
Baixa
Visão
Com
o passar dos anos vamos perdendo capacidades que nos habituámos a ter como
companhia certa do quotidiano. Os sentidos e as competências sensoriais vão
acompanhando o embranquecer dos cabelos e tornando evidente que vamos ouvindo
com maior dificuldade, que perdemos alguma da sensibilidade e destreza motora e
que a dificuldade em ver aumenta de dia para dia.
Ler
e, consequentemente, absorver a realidade que nos rodeia, torna-se uma tarefa
cada vez dificil que uma ajuda técnica centenária (os óculos e/ou uma lupa ou
lente de aumentar) podem ajudar a colmatar.
A
ausência da visão, ainda que parcial e devida a diferentes fatores, torna-nos
conscientes da diferença e integra-nos, gradualmente, nesse mundo da
deficiência e ou da incapacidade.
Passamos
a apresentar limitações, de carácter permanente, ao nível da atividade e da
participação que, nalguns casos uma intervenção cirúrgica e/ou uma ajuda
técnico, como já referido anteriormente, podem resolver e/ou atenuar. Neste
capítulo, as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) permitem, na
atualidade, aumentar o nível de atividade e de participação de todas as pessoas
que apresentem problemas ao nível da Baixa Visão. Computadores, telemóveis,
tablets,..., integram um conjunto de ferramentas que facilitam a acessibilidade
no uso das tecnologias e no acesso à informação que são, hoje, um dos pilares
base da organização das sociedades. No caso dos cidadãos e cidadãs que
apresentam problemas ao nível da Visão a acessibilidade na utilização das TIC
integra todos os sistemas operativos que existem no mercado. Adicionalmente
foram desenvolvidas, ou encontra-se em fase de desenvolvimento, uma série de
aplicações (apps) que procuram aumentar o nível de acessibilidade ao fantástico
mundo possibilitado pelas TIC.
Mas
longe de ser um problema relacionado com o natural envelhecimento do ser
humano, a Baixa Visão, é uma problemática transversal a todas as idades e, por
isso, passível de interferir com o normal desenvolvimento da criança,
dificultando a apreensão da realidade nos diferentes contextos de vida e
consequentemente dificultando o acesso normal à aprendizagem.
O
despiste precoce de possíveis dificuldades ao nível da Visão (e da Audição)
ajudam a solucionar a grande maioria dos problemas sensoriais e parte
significativa dos problemas apresentados ao nível da aprendizagem.
Para
isso há que estar atento. Passando a redundãncia do tema há que olhar, mas mais
importante, há que ver. Esta é uma tarefa a que pais, educadores e professores
devem prestar o maior cuidado para que a intervenção se realize de forma
adequada e atempadamente.
Posteriromente,
a adequação de fatores como a iluminação dos espaços e dos objetos, o tamanho
de letra e de imagem, registos multiformato (visual e áudio), posicionamento em
relação à fonte emissora de imagem, organização da sala e dos espaços de
existência (como a sala de aula e acessos),..., são soluções fáceis de adotar
que exigem apenas vontade e adaptibilidade por parte das redes sociais de
(co)existência.
Tecnicamente,
a Baixa Visão pode ser congénita (estar presente desde o nascimento) ou ser
adquirida em determinado período da vida, devido a lesão ou patologia. De
acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) podemos dizer que um ser
humano apresenta Baixa Visão quando existe, após tratamento e/ou correção
refrativa) uma acuidade visual inferior a 3/10 ou uma restrição do campo visual
inferiror a 10º (o campo de visão normal é aproximadamente de 180º).[1]
Sendo
a visão o sentido mais importante para a relação com o meio, compreendemos
facilmente que, uma limitação visual não detetada precocemente irá influenciar
de forma direta as inúmeras informações que o ambiente nos oferece e limitar a
forma como interafimos com e nesse ambiente.
Uma
criança que não consegue ver o brinquedo ou o livro que ficou fora do seu
ângulo de visão, que não dá pela entrada da mãe, do pai, ou do animal de
estimação na sala onde se encontra, fica limitada na interação com esse
brinquedo e na aprendizagem que a sua utilização poderia facultar. Perde capacidade
de exploração do meio ambiente, de adaptação, de antecipação,...
Neste
muito que fica por dizer sobre esta problemática não podemos deixar de referir
que a par das ajudas técnicas já referidas existe um conjunto de estratégias
simples de adotar (como utilizar a luz, o contraste, o brilho, fitas de
orientação,...) que podem marcar toda a diferença na forma como as crianças,
jovens e adultos que apresentam problemas de Baixa Visão interagem, aprendem e
vivem marcando o valor qualitativo com que o fazem.
No
nosso concelho e cidade existe desde o ano letivo de 2013-2014 uma Escola de
Referência para o atendimento a alunos e alunas que apresentem problemas ao
nível da Baixa Visão e da Cegueira. Fica sedeada na Escola Secundária Sebastião
da Gama em Setúbal.[2]
Contudo as Unidades Especializadas de Apoio à Multideficiência e Surdocegueira
Congénita, como a Unidade do nosso Agrupamento de Escolas que fica sedeada na
Escola nº 9 de Setúbal, do Casal das Figueiras, acompanham e apoiam alunos e
alunas que, em comorbilidade, apresentam problemas de Baixa Visão e que por
isso necesitam de ajudas técnicas específicas.
João Paulo Amaral
(professor de educação especial e coordenador da
UM – Unidade Especializada de Apoio à Multideficiência e Surdocegueira
Congénita)
Para saber mais (fontes):
A Ver:
DOCUMENTÁRIO EDUCATIVO BRASILEIRO BAIXA VISÃO 3
PARTES
·
https://www.youtube.com/watch?v=_6oaeyoAKfE
(1ª Parte);
·
https://www.youtube.com/watch?v=3VO2hVLMN98
(2ª Parte);
·
https://www.youtube.com/watch?v=CFJz5Soz34o
(3ª Parte).
A Ler:
(para download
gratuito)
[1] In, A Criança com Baixa Visão – Um Guia
para Pais; Equipa da Consulta de Baixa Visão do Hospital Pediátrico de Coimbra,
Abril 2013, pág. 4.
[2] No âmbito do disposto no decreto-lei 3/2008, de 7 de janeiro,
o Ministérior da Educação e Ciência criou uma rede de escolas de referência para
a inclusão de alunos e alunas cegos/as e com baixa visão, com vista a concentrar
meios humanos e materiais que possam oferecer uma resposta educativa de
qualidade a estes alunos. Ver, Escolas
de Referência para a Educação de Alunos Cegos e com Baixa Visão em: http://www.dgidc.min-edu.pt/educacaoespecial/index.php?s=directorio&pid=55