2. A
AUTISMO
(Perturbação do Espetro do)
Escrever
sobre o Autismo é falar um pouco de nós próprios. Uma espécie de olhar que se
lança no espelho e que reflete os nossos receios, desconfortos, medos e
incapacidades face a um mundo que por vezes se apresenta sem sentido, vazio,
desestruturado e violento. Um mundo que nos confunde os sentidos e nos leva ao
fechamento em torno de nós próprios. Ao longo destes quase vinte anos de
docência na Educação Especial tive o privilégio de (com)viver, em contexto
escolar, com mais de uma dezena de crianças e jovens que se enquadravam naquilo
que, hoje, conhecemos por Perturbação do Espetro do Autismo. De cada um e de
cada uma (são mais os rapazes do que as raparigas que apresentam esta
Perturbação), guardo sinais de descoberta de personalidades únicas e
características pessoais que me levaram a questionar profundamente, de forma
quase filosófica, o sentido do ser e da (co)existência com os outros seres
vivos e objetos que nos rodeiam. Entre milhentas descobertas fui tomando
consciência de que, na vida, é mais o que nos une do que aquilo que nos separa
e de que um ambiente protetor em que nos sintamos amados e protegidos nos
torna, a todos e a todas, mais felizes e saudáveis… e descoberta fundamental… a
Escola Inclusiva e para tod@s ajuda-nos a percorrer essa estrada feita caminho
em que juntos somos mais gente com gente.
Claro
que muito pouco de tudo isto vem nos livros ou nos estudos científicos sobre o
Autismo.
O
que dizem os livros…
O Autismo é uma disfunção global do desenvolvimento.
Uma alteração que afeta a capacidade do ser humano em comunicar (verbalmente e não verbalmente), em socializar-se (estabelecendo relações interpessoais adequadas) e em
apresentar comportamentos
reconhecidos como descontextualizados em relação aos diferentes ambientes de
vida e às atividades realizadas nesses mesmos ambientes.
Descrito pela primeira vez, em 1943, pelo médico
austríaco Leo Kanner e pelo seu colega e conterrâneo Hans Asperger em estudos
distintos, independentes e geograficamente separados, a palavra Autismo tinha
sido utilizada, em 1911, pelo Dr. Eugene Bleuler como caraterística de um dos
sintomas da esquizofrenia que descreveu como «… fuga à realidade…».
Os trabalhos e estudos científicos recentes têm
um maior conhecimento das causas do Autismo possibilitando o diagnóstico nos
primeiros anos de vida e consequentemente a intervenção educativa precoce
adequada ao desenvolvimento de cada uma das crianças que apresentam este
transtorno no desenvolvimento.
Alguns
dos métodos de tratamento e intervenção mais conhecidos e utilizados na
atualidade são:
-
O método TEACCH
(Treatment and Education of Autistic
and Related Communication Handicapped Children). É um dos
métodos de intervenção mais utilizados e espalhados pelo mundo. Recorre à utilização
de diferentes estímulos visuais e auditivos com o objetivo de desenvolver a
linguagem, melhorar a aprendizagem e reduzir e gerir os comportamentos.
- O ABA (Applied
Behaviour Analysis). Trata-se de
uma método que, como o próprio nome indica, utiliza a Análise do Comportamento
Aplicada tendo por base os conhecimentos facultados pela psicologia
comportamental.
- A Farmacoterapia é
uma área que, apesar de alguma polémica, é hoje reconhecida como muito
importante ao nível da ajuda à intervenção socioeducativa e comportamental.
Depende sobretudo das características e das necessidades individuais (redução
de comportamentos obsessivos, estereotipias, comportamentos auto e
heteroagressivos, alheamento,...
- O PECS
(Picture Exchange
Communication System) é um recurso de enorme importância utilizado no desenvolvimento
da linguagem e da comunicação em autistas verbais e/ou não-verbais. Trata-se de
um sistema composto por figuras que espelham as necessidades, ações e/ou os
interesses individuais. Para além da comunicação este sistema facilita a
compreensão e a gestão comportamental. O recurso a imagens representativas do
contexto quotidiano de vida é uma alternativa a ponderar para a planificação e
a gestão de rotinas de trabalho assim como para as escolhas individuais.
-
Educação Inclusiva na escola
regular, na área de residência (se possível), no meio dos amigos, colegas e
vizinhos e assistido por uma equipa transdisciplinar adequada às necessidades
individuais. Tem demonstrado ser o ambiente mais adequado ao pleno
desenvolvimento de todas as competências apresentadas pelas crianças e jovens
enquadrados no espetro do autismo assim como de todos os seus colegas que
frequentam os mesmos espaços educativos e escolares. Basta, sobretudo, que os
recursos adequados existam mas também que a disponibilidade e o amor se
encontrem presentes como uma constante. Uma vontade que torne possível adequar
e introduzir as alterações necessárias ao nível da organização e da gestão dos
espaços educativos e escolares. Continua a ser uma aposta lançada ao futuro.
João Paulo Amaral
(professor de educação especial e coordenador da
UM – Unidade Especializada de apoio à Multideficiência e Surdocegueira
Congénita)
Para
saber mais (fontes):
·
http://www.fpda.pt/
A
Ver:
·
Temple Grandin ,
realização Mick Jackson (2010, EUA)
Trailer
em http://www.youtube.com/watch?v=cpkN0JdXRpM
Encontro de Irmãos (Rain Man), realização Barry Levinson (1988, EUA)
Trailer em http://www.youtube.com/watch?v=mlNwXuHUA8I
A
Ler:
- Compreender o
Autismo - Estratégias para Alunos com Autismo nas Escolas Regulares,
HEWITT (Sally) Hewitt, 2010; Porto Editora; Coleção EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE
- Autismo - Conceitos,
Mitos e Preconceitos, FILIPE (Carlos
Nunes) Filipe, 2012; Editorial Verbo
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